“Se eu controlar tudo, nada me apanha de surpresa”. A lógica por trás desta crença é bastante sedutora e inspira segurança para muitos de nós. Pensamos que se dominarmos cada detalhe conseguimos evitar o imprevisto, a falha, a dor… e talvez seja verdade que este esforço constante reduza alguns imprevistos, mas há um preço silencioso a pagar. Especialmente quando tentamos controlar o incontrolável como, por exemplo, aquilo que sentimos. As emoções não desaparecem, apenas se transportam para outros sítios – para sintomas físicos, para noites mal dormidas, para irritações que surgem sem percebermos o porquê. Acreditamos que “sentir demais” é sinal de fraqueza, tentamos não sentir, comprimimos emoções, racionalizamos tudo, criamos regras internas rígidas. Não tenho razões para estar triste; a ansiedade não pode aparecer; a raiva é proibida.
Aos poucos, de tanto tentarmos controlar as emoções que consideramos “más”, apercebemo-nos que acabamos também por amortecer as “boas”. Pode acontecer que, quando nos fechamos para nos protegermos da dor, acabamos muitas vezes por nos afastar também do prazer e da espontaneidade, no fundo, de nós próprios. Tentamos antecipar tudo o que estiver ao nosso alcance para evitarmos o encontro com o desconhecido (em nós e nos outros), tememos aquilo que é imprevisível. Criamos então uma espécie de armadura que nos protege daquilo que nos assusta, mas de tão pesada que ela é afasta-nos da leveza, das relações verdadeiras e até de partes nossas que, sem espaço para respirar, acabam por se silenciar. Paradoxalmente, quanto mais tentamos controlar, menos controlo temos – porque o custo é perder a espontaneidade e a criatividade.
A verdade, a meu ver, é que a vida só se experimenta com contacto, com vulnerabilidade, arriscando. Sentir é o que nos liga aos outros e a nós próprios e isso implica permitir que as emoções existam, mesmo as desconfortáveis. Abrir mão do controlo não é desistir; quando deixamos de lutar contra o que sentimos, começamos a despertar para o que nos toca e move. E é justamente nesse território desconhecido que, muitas vezes, surge o novo: um sentimento que faz sentido, uma decisão que amadurece, uma mudança que antes parecia impossível. É nesses pequenos desvios que a vitalidade costuma reaparecer. Talvez o desafio não seja abandonar o controlo – porque algum é necessário para viver –, mas aprender a não fazer dele um modo de existência.
DIOGO CATALINO
Psicólogo Júnior - Dialógicos
Texto integrado na Rúbrica Ver.Sentir.Reflectir - Dezembro 2025