Há perguntas que parecem fáceis de responder, até que alguém nos pergunta: “Como estás?”. E, então, essa pergunta, que por vezes é feita de forma automática, revela-se mais difícil do que imaginávamos. Muitas vezes, a resposta escapa-nos, porque o que sentimos ainda não encontrou forma ou porque, talvez, não houve tempo para parar, refletir e dar sentido ao que está a acontecer. Pode também ser que já tenhamos pensado tanto sobre o assunto que as ideias se confundem, e o cansaço nos impede de organizar o que nos passa pela cabeça. Ou, por vezes, também é porque ainda não aprendemos a pensar sobre o que sentimos.
Dizer “não sei” ou “não consigo encontrar palavras” também são respostas válidas. Não há vergonha em não ter uma resposta pronta. Contudo, é comum que essas respostas venham acompanhadas de um vazio, de uma sensação desconfortável de incerteza, como se algo estivesse em falta. E é precisamente nesse espaço de incerteza que pode começar a surgir a verdadeira reflexão.
Pensar sobre o que sentimos não é um ato imediato nem isento de dor, uma vez que exige coragem para enfrentarmos o que por vezes preferíamos evitar. No entanto, é ao encararmos os nossos sentimentos que começamos a perceber padrões: que determinada situação desperta certo sentimento, que algumas dores nos tocam de forma mais profunda, que há coisas que nos inquietam sem sabermos exatamente porquê; que também a felicidade se faz sentir. Ao pensarmos sobre o que sentimos, a dor não desaparece, mas transforma-se; o prazer intensifica-se. Ao dar nome à experiência, ela deixa de ser difusa e passa a ser algo que podemos começar a compreender. E, ao compreendê-la, a tornamo-la menos ameaçadora.
Por vezes, é um processo difícil de fazer sozinho, mas o mais importante é saber que a viagem não precisa de ser feita de forma apressada nem isolada. Porque, mesmo no silêncio da incerteza, quando a resposta não surge de imediato, há beleza no momento de pausa. Às vezes, é no não saber que encontramos a chave para o próximo passo, aquele que vem com mais calma, mais clareza e, quem sabe, mais verdade.
INÊS GRIFF
Psicóloga Júnior - Dialógicos
Texto integrado na Rúbrica Ver.Sentir.Reflectir - Novembro 2025