Há coisas na nossa vida que insistem em se repetir. Mudamos de casa, de cidade, até de pessoas e, mesmo assim, há histórias que voltam. Por vezes, não nos damos logo conta, só mais tarde, quando a sensação já é demasiado familiar e pensamos: “espera aí… eu já passei por isto antes”. É aqui que nos surge a questão: “Porquê outra vez?”. Podemos dar-nos conta de que escolhemos sempre pessoas semelhantes nas relações, ou que acabamos constantemente em trabalhos onde nos sentimos desvalorizados, ou mesmo que caímos vezes sem conta na sensação de que damos mais do que aquilo que recebemos.
A verdade é que a vida tem uma forma curiosa de nos devolver aquilo que deixámos por resolver. E insiste. Repete. Mostra de novo. Por vezes achamos que é azar, outras vezes que é destino. Mas talvez seja apenas uma espécie de espelho, que é colocado à nossa frente até termos coragem de olhar de verdade. Mas não é nada fácil… porque se fosse, simplesmente aprendíamos a não repetir o que em tempos nos magoou. Mas se dói e, ainda assim, repetimos, talvez seja por algum motivo. Repetimos então, sem saber ao certo porquê. E tão frustrante que é…, faz-nos sentir presos, cansados de andar em círculos.
Mas, e se pararmos por um instante e olharmos para as nossas repetições como um convite? Um convite a parar e a perguntar: “O que é que isto me está a mostrar? O que é que em mim precisa de ser visto? Talvez a vida não queira que fiquemos presos neste círculo. Talvez só queira que o reconheçamos. E, quando o conseguimos fazer, lentamente, o círculo começa a abrir espaço para se transformar. Ainda assim, quebrar esse círculo nem sempre é simples. Muitas vezes, senão todas, trata-se de questões inconscientes, às quais nos é difícil termos acesso sozinhos. É aqui que a terapia surge como um lugar onde essas repetições podem ser reconhecidas, compreendidas e, pouco a pouco, transformadas. Tornando as nossas escolhas mais conscientes.
DIOGO CATALINO
Psicólogo Júnior - Dialógicos
Texto integrado na Rúbrica Ver.Sentir.Reflectir - Outubro 2025