Há no ano dois momentos que soam a (re)começo. O inevitável Janeiro, com as 12 passas e as promessas apressadas de que, desta vez, vai ser diferente. E o silencioso Setembro, que chega com a luz a mudar, o verão a terminar, os dias a encolher e aquela sensação estranha de que, mais uma vez, temos uma página em branco à frente.
Há uma diferença silenciosa entre o começo e o (re)começo: começar parece, à primeira vista, mais fácil do que voltar a começar. O começo vem vestido de esperança, com o entusiasmo intacto de quem ainda não conhece o peso das quedas. Já o (re)começo carrega outra bagagem, o eco discreto de tentativas passadas, de pausas forçadas, de oportunidades que já nos são familiares. Como se houvesse menos mérito em voltar, como se termos parado uma vez, ou por um certo tempo, nos tornasse menos merecedores da chegada.
É aqui que tantas vezes confundimos o (re)começo com fracasso. Como se reerguer-se fosse sinónimo de ter falhado. Mas será mesmo assim? Será que perder é não chegar ao destino… ou será que perder é desistir de o procurar? Por vezes, a vida não acontece no ritmo que desenhámos. Há sonhos que se atrasam, há planos que se desfazem, há estradas que se fecham sem aviso. E, quando isso acontece, ficamos suspensos a acreditar que a pausa é fracasso, quando, na verdade, pode ser apenas mais uma parte do caminho.
O (re)começo tem uma beleza própria. Não a beleza limpa e luminosa do primeiro passo, mas uma beleza mais funda, feita de cicatrizes e persistência. É a coragem de voltar a segurar um sonho que já pesou nas mãos, de o moldar à vida que temos agora, de aceitar que ele pode ser diferente e, ainda assim, valer a pena. É olhar para a voz que sussurra “não vale a pena” e responder, com calma: “vale, sim”.
Porque (re)começar não é voltar ao ponto zero, mas sim partir de um lugar novo, com mais sabedoria, mais consciência e, talvez, mais coragem. É não apagar o que ficou para trás, mas usá-lo como mapa para o que vem a seguir. No fundo, é isso que nos mantém em movimento: perceber que não há vergonha em tentar outra vez. Que, por vezes, a vida não pede apenas um começo… pede (re)começos.
INÊS GRIFF
Psicóloga Júnior - Dialógicos
Texto integrado na Rúbrica Ver.Sentir.Reflectir - Setembro 2025