Porque é que temos esta tendência para o tudo ou o nada?
Ou estamos em cima, ou não estamos de todo. Ou mergulhamos de cabeça, ou nem tocamos na água. Ou somos impecáveis, ou somos um desastre. É como se o equilíbrio nos aborrecesse, como se viver a meio gás fosse uma forma de desistência - quando, na verdade, pode ser o único lugar onde há fôlego. Temos dificuldade em habitar o meio, tão assustador como curioso, mas na verdade, é aqui que as coisas duram - onde se constrói, onde se sustenta, onde se respira.
Vivemos, muitas vezes, entre dois extremos: ou hiperprodutivos, ou em total inércia. Como se só conseguíssemos funcionar em esforço ou em colapso. Começamos projetos com entusiasmo desenfreado, criamos rotinas com disciplina quase militar, entregamo-nos a pessoas ou ideias como se o mundo acabasse amanhã. E depois, quando vacilamos uma vez, tudo desaba. Porque não aprendemos a continuar aos bocadinhos. A adaptar, a abrandar, a recomeçar.
Este “tudo ou nada” está no modo como nós exigimos, como amamos, como reagimos ao erro e como cuidamos de nós. Queremos estar sempre “bem” e quando não estamos, achamos que falhámos. Na verdade, o meio exige mais coragem do que os extremos - exige escuta, paciência e autorregulação. Implica aceitar que o caminho não é sempre em linha reta, que o cansaço e a falha não invalidam o percurso. Que a constância é mais valiosa do que o pico. E que ir devagar não é o mesmo que estar parado.
Talvez devêssemos aprender a misturar o dever com a pausa. A não ver descanso como preguiça, nem pausa como fraqueza. A perceber que persistir não é acelerar, mas continuar, mesmo com menos força ou vontade. É no equilíbrio imperfeito, na vivência no meio e na pausa escolhida, que podemos começar, enfim, a respirar por inteiro.
INÊS GRIFF
Psicóloga Júnior - Dialógicos
Texto integrado na Rúbrica Ver.Sentir.Reflectir - Agosto 2025