Há quem diga que procrastinamos porque somos preguiçosos, ou porque não sabemos gerir o tempo. Mas talvez seja mais complexo que isso.
Todos conhecemos esta dança entranha entre a vontade de fazer e a incapacidade para começar. Olhamos para a tarefa, sabemos o que tem que ser feito, mas… não conseguimos. Inventamos desculpas. Ocupamo-nos com trivialidades. E, no fundo, sabemos que estamos a fugir. Mas a fugir de quê?
Muitas vezes, não é da tarefa em si, mas do que ela representa. Mais do que adiar a tarefa é possível que estejamos a adiar algo nessa tarefa que mexe connosco, mesmo que inconscientemente. O medo de falhar. O receio de não estar à altura. A sensação de que, ao começar, vamos ter de enfrentar uma parte de nós que preferíamos manter escondida.
Assim, parece que a procrastinação é menos uma falha de organização e mais um sintoma – uma defesa contra o desconforto. Adiamos para nos proteger de uma experiência que sentimos, inconscientemente, como ameaçadora. Mas a tarefa continua lá… E agora junta-se-lhe a culpa, o autojulgamento, a vergonha.
Procrastinar, por vezes, é o modo como a nossa mente nos pede cuidado. É um pedido indireto de atenção – não à tarefa, mas ao que ela ativa dentro de nós. Talvez seja preciso perguntar: O que estou, de facto, a evitar? O que representa este adiamento?
Nem sempre haverá uma resposta clara. E é natural que assim seja, está tudo bem. Mas só o facto de colocarmos a questão já nos aproxima de algo importante: de nós mesmos, e da curiosidade de nos compreendermos. Porque procrastinar não é só deixar para depois. Às vezes, é deixar-nos para depois.
DIOGO CATALINO
Psicólogo Júnior - Dialógicos
Texto integrado na Rúbrica Ver.Sentir.Reflectir - Julho 2025