FELICIDADE...
A busca incessante pela felicidade parece ter-se tornado num projeto de vida. Mas será possível alcançarmos uma felicidade constante e imutável? Imaginemos, por um momento, que a felicidade se equipara ao prazer. Todos nós, mesmo que inconscientemente, tendemos a viver em função de sensações de prazer, tentando evitar o desprazer. Será isso, então, a felicidade – uma permanência num estado de prazer? Será se quer possível vivermos apenas de prazer? Quem já tentou, provavelmente sabe a resposta. O prazer constante perde o sabor. Sendo, paradoxalmente, o desprazer que dá contorno ao prazer.
É uma busca insaciável. E não poderia ser diferente, visto que estamos, inevitavelmente, em conflito com as exigências da realidade – essa que não nos dá tudo o que queremos, quando queremos. Por isso, adaptamo-nos. Moderamos as expetativas, reformulamos o ideal de felicidade, considerando-nos felizes, muitas vezes, se escaparmos à infelicidade. Assim, a felicidade estará algures entre a presença fugaz do prazer e a ausência, temporária, da dor e do desprazer.
Talvez a felicidade seja, afinal, um fenómeno episódico: a satisfação momentânea de necessidades que estavam suspensas. Um alívio, como o descansar depois de um dia cansativo. Algo que se sente por instantes, mas que não se estende indefinidamente. E está tudo bem assim.
Ainda assim, insistimos. Não apenas em sermos felizes, mas em parecê-lo. Vivemos divididos entre o sentir e o querer mostrar que sentimos. Criámos uma cultura onde a felicidade virou meta e o sofrimento, vergonha. A infelicidade tornou-se quase um fracasso pessoal – como se sentir tristeza, medo ou vazio fosse um erro de percurso.
Não há receita, nem fórmula mágica. Mas não será, talvez, sentindo — tudo, o bom e o difícil — que verdadeiramente vivemos?
DIOGO CATALINO
Psicólogo Júnior - Dialógicos
Texto integrado na Rúbrica Ver.Sentir.Reflectir - Junho 2025